http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/05/lula-detona-grande-imprensa.html?spref=fb
Por Altamiro Borges
O ex-presidente
Lula parece que resolveu comprar uma briga frontal contra os monopólios
midiáticos, que contaminam a sociedade com as suas manipulações diárias. Em
discurso proferido nesta terça-feira (13), na abertura do 2º Congresso da
Associação dos Diários do Interior do Brasil, em Brasília, ele apontou o enorme
distanciamento entre a cobertura da chamada “grande imprensa” e a realidade do
país. De maneira enfática, ele defendeu a urgência da regulação democrática da
mídia e da descentralização da publicidade governamental. Reproduzo abaixo a
íntegra do pronunciamento, muito didático nas críticas à visão distorcida da
mídia monopolizada:
*****
É sempre um prazer dialogar com os
jornalistas e empresários da imprensa regional brasileira. Por isso agradeço o
convite da Associação dos Diários do Interior do Brasil para participar desse
Congresso.
Vocês acompanharam as transformações que ocorreram no Brasil
nesses 11 anos e que beneficiaram o conjunto do país, não apenas os
privilegiados de sempre ou as grandes capitais.
Sabem exatamente como
essa mudança chegou às cidades médias e aos mais distantes municípios.
O
Brasil antigo, até 2002, era um país governado para apenas um terço dos
brasileiros, que viviam principalmente nas capitais. A grande maioria da
população estava condenada a ficar com as migalhas; excluída do processo
econômico e dos serviços públicos, sofrendo com o desemprego, a pobreza e a
fome.
Os que governavam antes de nós diziam que era preciso esperar o
país crescer, para só depois distribuir a riqueza. Mas nem o país crescia o
necessário nem se distribuía a riqueza.
Nós invertemos essa lógica
perversa, adotando um modelo de desenvolvimento com inclusão social. Criamos o
Fome Zero e o Bolsa Família, que hoje é um exemplo de combate à pobreza em muito
países.
Adotamos uma política de valorização permanente do salário e de
expansão do crédito, que despertaram a força do mercado interno, e ao mesmo
tempo garantimos a estabilidade, controlando a inflação e reduzindo a dívida
pública.
O resultado vocês conhecem: 36 milhões de pessoas saíram da
extrema pobreza, 42 milhões alcançaram a classe média e mais de 20 milhões de
empregos foram criados.
O Brasil não é mais um país acanhado e
vulnerável. Não é mais o país que seguia como um cordeirinho a política externa
ditada de fora. Não é só o país do futebol e do carnaval, embora tenhamos
orgulho da alegria e do talento do nosso povo.
O Brasil tornou-se um
competidor global – e isso incomoda muita gente, contraria interesses
poderosos.
A imprensa cumpre o importante papel de traduzir essa nova
realidade para a população. E isso não se faz sem uma imprensa regional
fortalecida, voltada para aquela grande parcela do país que não aparece nas
redes de TV.
Todo governo democrático tem a obrigação de prestar
contas de seus atos à sociedade. E tem obrigação de divulgar os serviços
públicos à disposição da população.
A publicidade oficial é o instrumento
dessa divulgação, que se faz em parceria com os veículos de imprensa – desde a
maior rede nacional até os jornais do interior profundo do país.
Uma das
mudanças mais importantes que fizemos nestes 11 anos foi democratizar o critério
de programação da publicidade oficial.
Quero recordar que esta medida
encontrou muito mais resistências do que poderíamos imaginar, embora ela tenha
sido muito importante para aumentar a eficiência da comunicação de
governo.
Essa medida foi também uma questão de justiça, para reconhecer a
importância do interior no desenvolvimento do Brasil.
Quando o
companheiro Luiz Gushiken, que era o ministro da Secom em meu primeiro mandato,
começou a democratizar a publicidade oficial, muita gente foi contra.
As
agências de publicidade, os programadores de mídia e os representantes dos
grandes veículos achavam que era uma mudança desnecessária.
Reclamaram
quando o Luiz Dulci incluiu a imprensa regional na programação de publicidade do
governo federal.
E reclamaram ainda mais quando o Franklin Martins
aprofundou a política de democratização da publicidade, abrangendo as empresas
estatais.
Diziam que para falar com o Brasil bastava anunciar nos jornais
de circulação nacional e nas redes de rádio e TV.
Hoje é fácil ver como
estavam errados, pois a imprensa regional está cada vez mais forte. São 380
diários que circulam 4 milhões de exemplares por dia, de acordo com os dados da
ADI-Brasil.
Isso ocorre porque temos políticas que levam progresso e
inclusão social ao interior do país.
De cada 3 empregos criados no ano
passado, 2 se encontram em cidades do interior e apenas 1 nas regiões
metropolitanas.
Nunca antes o governo federal investiu tanto no
desenvolvimento regional, para combater desequilíbrios injustos e
injustificáveis.
Nunca antes a relação entre o governo federal, os
Estados e as prefeituras foi tão republicana quanto nestes 11 anos.
E são
jornais do interior – e não os veículos nacionais – que traduzem essa
realidade.
Quando chegamos ao governo, a publicidade oficial era
veiculada em anunciava em 249 rádios e jornais. Em 2009, o governo federal já
estava anunciando em 4.692 rádios e jornais de todo o país.
Meus amigos,
minhas amigas
Pediram-me para contar aqui uma experiência com a imprensa
regional no período em que fui presidente da República. Vou contar o que aprendi
comparando a cobertura da imprensa regional com a que fazem os grandes
jornais.
Quando o Luz Pra Todos chega numa localidade rural ou numa
periferia pobre, está melhorando a vida daquelas pessoas e gerando empregos.
Isso é uma notícia importante para os jornais da região.
Os grandes
jornais nunca deram valor ao Luz Pra Todos, mas quando o programa superou todas
as expectativas e alcançou 15 milhões de brasileiros, um desse jornais deu na
primeira página: “1 milhão de brasileiros ainda vivem sem luz”. Está publicado,
não é invenção.
Onde é que estava esse grande jornal quando 16 milhões de
brasileiros não tinham luz?
Quando chega o momento de plantar a próxima
safra, são os jornais regionais que informam sobre as datas, os prazos, os juros
e as condições de financiamento nas agências bancárias locais.
Mas na
hora de informar à sociedade que em 11 anos o crédito agrícola passou de R$ 30
bilhões para R$ 157 bilhões, o que a gente lê num grande jornal é que a inflação
pode aumentar porque o governo está expandindo o crédito.
Quando uma
agência bancária da sua cidade recebe uma linha do BNDES pra financiar a compra
de tratores e veículos pelo Mais Alimentos, vocês sabem que isso aumenta a
produtividade e aquece o comércio local. É uma boa notícia.
Mas quando o
programa bate o recorde de 60 mil tratores e 50 mil veículos financiados, a
notícia em alguns jornais é que o governo “está pressionando a dívida interna
bruta”.
Quando nasce um novo bairro na cidade, construído pelo Minha Casa
Minha Vida, essa é uma notícia local muito importante.
Mas um programa
que contratou 3 milhões de unidades, e já entregou mais da metade, só aparece na
TV e nos grandes jornais se eles encontram uma casa com goteira ou um caso
qualquer de desvio.
Quando o governo federal inaugura um hospital
regional, isso é manchete nos jornais de todas as cidades daquela região. O
mesmo acontece quando chega o SAMU ou um posto do Brasil Sorridente.
Mas
lendo os grandes jornais é difícil ficar sabendo das quase 300 UPAs, 3 mil
ambulâncias do SAMU e mais de mil consultórios odontológicos que foram abertos
por todo o país nestes 11 anos.
A maior cobertura de políticas públicas
que os grandes jornais fizeram, nesse período, foi para apoiar o fim da CPMF,
que tirou R$ 50 bilhões anuais do orçamento da Saúde.
Quando sua cidade
recebe profissionais do Mais Médicos, vocês sabem o que isso representa para os
que estavam desatendidos. Vão entrevistar os médicos, apresentá-los à
população.
Mas quando 15 mil profissionais vão atender 50 milhões de
pessoas no interior do país, a imprensa nacional só fala daquela senhora que
abandonou o programa por razões políticas, ou daquele médico que foi falsamente
acusado de errar numa receita.
Quando um novo campus universitário é
aberto numa cidade, os jornais da região dão matérias sobre os novos cursos, as
vagas abertas, debatem o currículo, acompanham o vestibular.
Lendo os
grandes jornais é difícil ficar sabendo que nestes 11 anos foram criadas18 novas
universidades e abertos 146 novos campi pelo interior do país.
É nos
jornais do interior que se percebe a mudança na vida de milhões de jovens,
porque eles não precisam mais sair de casa, deixar para trás a família e os
valores, para cursar a universidade.
O número de universitários no Brasil
dobrou para 7 milhões, graças ao Prouni, ao Reuni e ao FIES. Os grandes jornais
não costumam falar disso, mas são capazes de fazer um escândalo quando uma prova
do ENEM é roubada de dentro da gráfica – que por sinal era de um dos maiores
jornais do país.
Quando uma escola técnica é aberta numa cidade do
interior, essa é uma notícia muito importante para os jovens e para os seus
pais, e vai sair com destaque em todos os jornais da região.
Quando eu
informo que nesses 11 anos já abrimos 365 escolas técnicas, duas vezes e meia o
que foi feito em século neste país, os grandes jornais dizem apenas que o Lula
“exaltou o governo do PT e voltou a atacar a oposição”.
Quando chega na
sua cidade um ônibus, um barco ou um lote de bicicletas para transportar os
estudantes da zona rural, essa é uma boa notícia.
O programa Caminho da
Escola já entregou 17 mil ônibus, 200 mil bicicletas e 700 embarcações, para
transportar 2 milhões de alunos em todo o país. Mas só aparece na TV se faltar
combustível ou se o motorista do ônibus não tiver habilitação.
Eu
costumo dizer que os grandes jornais me tratam muito bem. Mas eu gostaria mesmo
é que mostrassem as mudanças que ocorrem todos os dias em todos os cantos do
Brasil.
Meus amigos, minhas amigas,
Quanto mais distante
estiver da realidade, mais vai errar um veículo de comunicação. Basta ver o que
anda publicando sobre o Brasil a imprensa econômica e financeira do Reino
Unido.
O país deles tem uma dívida de mais de 90% do PIB, com índice
recorde de desemprego, mas eles escrevem que o Brasil, com uma dívida líquida de
33%, é uma economia frágil.
Não conheço economia frágil com reservas de
US$ 377 bilhões, inflação controlada, investimento crescente e vivendo no pleno
emprego.
Escrevem que os investidores não confiam no Brasil, mas omitem
que somos um dos cinco maiores destinos globais de investimento externo direto,
à frente de qualquer país europeu.
Dizem que perdemos o rumo e devemos
seguir o exemplo de países obedientes à cartilha deles. Mas esquecem que desde
2008, enquanto o mundo destruiu 62 milhões de postos de trabalho, o Brasil criou
mais de 10 milhões de novos empregos.
O que eu lamento é que alguns
jornalistas brasileiros fiquem repetindo notícias erradas que vêm de fora, como
bonecos de ventríloquo. Isso é ruim para a imprensa, porque o público sabe
distinguir o que é realidade do que não é.
Alguns jornalistas dos
grandes veículos passaram o ano de 2013 dizendo que a inflação ia estourar, mas
ela caiu. Passaram o ano dizendo que a inadimplência ia explodir, mas ela também
caiu.
Diziam que o desemprego ia crescer, e nós terminamos o ano com a
menor taxa da história. Chegaram a dizer que o Brasil entraria em recessão, mas
a economia cresceu 2,3%, numa conjuntura internacional muito difícil.
Eu
gostaria que esses jornalistas viajassem pelo interior do país, conhecessem
melhor a nossa realidade, estudassem um pouco mais de economia, antes de repetir
previsões pessimistas que não se confirmam.
E vou continuar defendendo a
liberdade de imprensa e o direito de opinião, porque sei que, mesmo quando erra,
a imprensa livre é protagonista essencial de uma sociedade
democrática.
Meus amigos, minhas amigas,
A democracia é o
único sistema que permite transformar um país para melhor. E ela não existe sem
que as pessoas participem diretamente da vida política. Por isso digo sempre aos
jovens: se querem mudar a política, façam política. E façam de um jeito melhor,
diferente. Negar a política é o caminho mais curto para abolir a
democracia.
Aprimorar a democracia significa também garantir ao
cidadão o direito à informação correta e ao conhecimento da diversidade de
ideias, numa sociedade plural. Esse tema passa pela construção do marco
regulatório da comunicação eletrônica, conforme previsto na Constituição de
1988.
O Código Brasileiro de Telecomunicações é de 1962, quando no
país inteiro havia apenas 2 milhões de aparelhos de TV. Como diz o Franklin
Martins, havia mais televizinhos do que televisores.
É de um tempo em que não
havia rádio FM, não havia computadores, não havia internet. De um tempo em que
era preciso marcar hora para fazer interurbano.
No Brasil de hoje é
preciso garantir a complementariedade de emissoras privadas, públicas e
estatais. Promover a competição e evitar a contaminação do espectro por
interesses políticos. Estimular a produção independente e respeitar a
diversidade regional do país.
Uma regulação democrática vai
incentivar os meios de comunicação de caráter comunitário e social, fortalecer a
imprensa regional, ampliar o acesso à internet de banda larga. Por isso foi tão
importante aprovar o Marco Civil da Internet.
Este é o desafio que se
apresenta aos meios de comunicação, seus dirigentes e seus profissionais, nesse
novo Brasil: o desafio de ser relevante num país com uma população cada vez mais
educada, com um nível de renda que favorece a independência de opinião e com
acesso cada vez mais amplo a outras fontes de informação.
Quero
cumprimentar a ADI-Brasil, mais uma vez, pela realização desse Congresso, e dar
os parabéns aos seus associados, que levam notícias para a população do interior
desse imenso país.
Muito obrigado.
quinta-feira, 15 de maio de 2014
A eleição de 2014 no Brasil e o reposicionamento geopolítico dos EUA
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-eleicao-de-2014-no-Brasil-e-o-reposicionamento-geopolitico-dos-EUA/4/30924
Porto Alegre - Pela primeira vez na história da democracia brasileira temos um governo de centro-esquerda tão longo, construído a partir do centro político e conduzido pelo PT. Agora, o desafio do PT e do governo Dilma é, ao mesmo tempo, manter esse centro político e construir uma nova agenda social para a classe trabalhadora do país. A avaliação é do economista Marcio Pochmann, ex-presidente do IPEA e atual presidente da Fundação Perseu Abramo, que participou de um debate segunda-feira à noite, no Hotel Everest, promovido pelo mandato do deputado federal Pepe Vargas (PT/RS).
Pochmann fez um balanço sobre o período de doze anos dos governos Lula e Dilma, falou sobre os desafios que estão colocados para a continuidade desse projeto nos próximos anos e analisou o cenário internacional no qual se dará essa disputa, em especial no que diz respeito às relações entre Brasil e Estados Unidos.
Para contextualizar a natureza desses desafios, Marcio Pochmann situou a posição do Brasil hoje no mundo. “O Brasil não é um país do centro dinâmico capitalista. Não temos uma moeda forte internacionalmente, não temos uma produção tecnológica de peso, a nossa participação em patentes é muito débil e também não temos forças armadas de grande peso”. Ou seja, apesar de o protagonismo internacional do país ter aumentado significativamente nos últimos anos, o Brasil segue sendo um país da periferia capitalista e é neste contexto que os desafios para o futuro devem ser pensados.
O economista atribuiu o sucesso do projeto atualmente no comando do país ao grande grau de mobilização e enraizamento social do PT e à fragmentação da classe dominante provocada pelas políticas neoliberais. Esse quadro, assinalou Pochmann, permitiu que o PT chegasse ao governo federal com uma maioria política muito fragmentada e tendo que lidar com uma série de contradições geradas pelo neoliberalismo. Isso aconteceu também em virtude de uma nova relação adotada com o centro político. “Nós aprendemos com movimentos políticos anteriores, como o de João Goulart, que tentaram fazer reformas no Brasil, mas foram interrompidos pelas classes dominantes. Essas tentativas nos tornaram mais cuidadosos quanto às fragilidades da democracia no Brasil. A estrutura do nosso Judiciário é praticamente a mesma do tempo da ditadura. O Legislativo hoje, em todas as suas esferas, dá golpes no poder Executivo, caso esse afronte os interesses dominantes”.
Esse aprendizado com derrotas anteriores e a decisão de incorporar o centro político tiveram como uma de suas contrapartidas, assinalou ainda Pochmann, a necessidade de fazer uma série de concessões. “Temos uma democracia com problemas, com uma representação extremamente desigual. Um exemplo disso é o peso dos proprietários de terra no Congresso. Apesar desses limites e problemas, o PT está há 12 anos no governo federal e procurou fazer uma polarização mais avançada, mas sempre preservando o centro”. Para Pochmann, as três principais conquistas desse período foram as seguintes:
1. Reposicionamento do Brasil no mundo. O Brasil é hoje uma referência internacional. O país inventou outra diplomacia que, entre outras coisas, perdoou a dívida de países mais pobres e estabeleceu acordos de cooperação técnica. Nós mudamos o padrão de nossas relações comerciais, fortalecendo o eixo Sul-Sul. Nossas Forças Armadas estão firmando parcerias, como ocorreu agora com a Suécia no caso da compra dos caças, que envolvem transferência de tecnologia. Em parceria com França e Argentina, estamos construindo submarinos nucleares. Na licitação do campo de Libra, firmamos relações com chineses e franceses. Tudo isso expressa uma mudança significativa na política de inserção internacional do Brasil.
2. Construção de uma nova estratificação social. O salário mínimo aumentou mais de 70% em termos reais. Houve uma expansão do trabalho com a criação de 22 milhões de novos empregos, 90% deles com a carteira assinada. A média salarial do país, embora ainda seja baixa, chegou a dois salários mínimos, o que significou uma expressiva mudança na inserção social e econômica de milhões de pessoas.
3. Reinvenção do mercado. Hoje temos de 10 a 12 políticas públicas voltadas para pequenos empreendimentos, cerca de 4 milhões de microempreendedores individuais, que têm acesso a políticas de compras públicas e de microcrédito.
O reposicionamento dos EUA no cenário mundial
Ao contextualiza o cenário internacional no qual se dará a disputa eleitoral este ano Brasil, Pochmann destacou como tema central o reposicionamento dos Estados Unidos. “Desde 2008, os Estados Unidos estão com um problema sério e olham para a China cada vez com mais atenção. Os EUA estão deixando o Iraque e o Afeganistão em segundo plano e se preparando para enquadrar a China e também os BRICs. Além disso, estão enfrentando a crise energética apostando no xisto e ganharam em competitividade com a redução do custo de sua mão-de-obra nacional. Hoje, os EUA querem se livrar do Iraque e do Afeganistão e se concentrar na China”.
Neste cenário, acrescentou Pochmann, a eleição de 2014 no Brasil é chave para os Estados Unidos. Não é pouca coisa que está em jogo no futuro político do país. “O ataque que a Petrobras vem sofrendo não é só eleitoral, mas tem também um elemento de disputa comercial dramático. O Brasil precisa ter grandes empresas, públicas e privadas, para assumir uma posição menos periférica em um mundo onde as grandes corporações econômicas são responsáveis por dois terços dos investimentos em novas tecnologias. Além isso, precisa também construir um grande bloco de investimentos, como tivemos com Getúlio e JK, com capacidade de coordenar o investimento privado no país”.
Tarefas para o futuro
O economista apontou, por fim, algumas tarefas que o PT e seus aliados têm no próximo período para garantir a continuidade e o avanço do atual projeto. Entre elas, destacou:
Construção de uma nova agenda para a classe trabalhadora: temos um grande crescimento de trabalhadores no setor de serviços, de trabalho imaterial. Cerca de 22 milhões de pessoas entraram no mercado de trabalho e que não foram para os sindicatos. Nós temos um outro tipo de trabalho hoje, com grande expansão do trabalho imaterial, onde as pessoas estão conectadas 24 horas por dia. Não sei se as instituições que temos hoje são portadoras de uma agenda para o futuro. Tivemos cerca de 40 milhões de pessoas que ascenderam socialmente. Esse é um segmento em disputa.
Revolução na Educação: por que o filho do pobre tem que entrar no mercado de trabalho antes de terminar a universidade? O país precisa desenvolver um sistema de educação contínua, uma educação para a vida toda. Todas as grandes empresas brasileiras têm hoje uma universidade corporativa. Elas têm a consciência de que é preciso aprender e capacitar durante toda a vida. As pessoas estão vivendo mais e trabalhando até mais tarde. Cerca de um terço dos aposentados e pensionistas estão trabalhando.
Jornada de Trabalho: é preciso uma CLT de novo tipo para os trabalhadores do setor imaterial (serviços). Cada vez mais as pessoas estão trabalhando muito em casa e estão trabalhando mais. Nada disso está regulamentado.
Porto Alegre - Pela primeira vez na história da democracia brasileira temos um governo de centro-esquerda tão longo, construído a partir do centro político e conduzido pelo PT. Agora, o desafio do PT e do governo Dilma é, ao mesmo tempo, manter esse centro político e construir uma nova agenda social para a classe trabalhadora do país. A avaliação é do economista Marcio Pochmann, ex-presidente do IPEA e atual presidente da Fundação Perseu Abramo, que participou de um debate segunda-feira à noite, no Hotel Everest, promovido pelo mandato do deputado federal Pepe Vargas (PT/RS).
Pochmann fez um balanço sobre o período de doze anos dos governos Lula e Dilma, falou sobre os desafios que estão colocados para a continuidade desse projeto nos próximos anos e analisou o cenário internacional no qual se dará essa disputa, em especial no que diz respeito às relações entre Brasil e Estados Unidos.
Para contextualizar a natureza desses desafios, Marcio Pochmann situou a posição do Brasil hoje no mundo. “O Brasil não é um país do centro dinâmico capitalista. Não temos uma moeda forte internacionalmente, não temos uma produção tecnológica de peso, a nossa participação em patentes é muito débil e também não temos forças armadas de grande peso”. Ou seja, apesar de o protagonismo internacional do país ter aumentado significativamente nos últimos anos, o Brasil segue sendo um país da periferia capitalista e é neste contexto que os desafios para o futuro devem ser pensados.
O economista atribuiu o sucesso do projeto atualmente no comando do país ao grande grau de mobilização e enraizamento social do PT e à fragmentação da classe dominante provocada pelas políticas neoliberais. Esse quadro, assinalou Pochmann, permitiu que o PT chegasse ao governo federal com uma maioria política muito fragmentada e tendo que lidar com uma série de contradições geradas pelo neoliberalismo. Isso aconteceu também em virtude de uma nova relação adotada com o centro político. “Nós aprendemos com movimentos políticos anteriores, como o de João Goulart, que tentaram fazer reformas no Brasil, mas foram interrompidos pelas classes dominantes. Essas tentativas nos tornaram mais cuidadosos quanto às fragilidades da democracia no Brasil. A estrutura do nosso Judiciário é praticamente a mesma do tempo da ditadura. O Legislativo hoje, em todas as suas esferas, dá golpes no poder Executivo, caso esse afronte os interesses dominantes”.
Esse aprendizado com derrotas anteriores e a decisão de incorporar o centro político tiveram como uma de suas contrapartidas, assinalou ainda Pochmann, a necessidade de fazer uma série de concessões. “Temos uma democracia com problemas, com uma representação extremamente desigual. Um exemplo disso é o peso dos proprietários de terra no Congresso. Apesar desses limites e problemas, o PT está há 12 anos no governo federal e procurou fazer uma polarização mais avançada, mas sempre preservando o centro”. Para Pochmann, as três principais conquistas desse período foram as seguintes:
1. Reposicionamento do Brasil no mundo. O Brasil é hoje uma referência internacional. O país inventou outra diplomacia que, entre outras coisas, perdoou a dívida de países mais pobres e estabeleceu acordos de cooperação técnica. Nós mudamos o padrão de nossas relações comerciais, fortalecendo o eixo Sul-Sul. Nossas Forças Armadas estão firmando parcerias, como ocorreu agora com a Suécia no caso da compra dos caças, que envolvem transferência de tecnologia. Em parceria com França e Argentina, estamos construindo submarinos nucleares. Na licitação do campo de Libra, firmamos relações com chineses e franceses. Tudo isso expressa uma mudança significativa na política de inserção internacional do Brasil.
2. Construção de uma nova estratificação social. O salário mínimo aumentou mais de 70% em termos reais. Houve uma expansão do trabalho com a criação de 22 milhões de novos empregos, 90% deles com a carteira assinada. A média salarial do país, embora ainda seja baixa, chegou a dois salários mínimos, o que significou uma expressiva mudança na inserção social e econômica de milhões de pessoas.
3. Reinvenção do mercado. Hoje temos de 10 a 12 políticas públicas voltadas para pequenos empreendimentos, cerca de 4 milhões de microempreendedores individuais, que têm acesso a políticas de compras públicas e de microcrédito.
O reposicionamento dos EUA no cenário mundial
Ao contextualiza o cenário internacional no qual se dará a disputa eleitoral este ano Brasil, Pochmann destacou como tema central o reposicionamento dos Estados Unidos. “Desde 2008, os Estados Unidos estão com um problema sério e olham para a China cada vez com mais atenção. Os EUA estão deixando o Iraque e o Afeganistão em segundo plano e se preparando para enquadrar a China e também os BRICs. Além disso, estão enfrentando a crise energética apostando no xisto e ganharam em competitividade com a redução do custo de sua mão-de-obra nacional. Hoje, os EUA querem se livrar do Iraque e do Afeganistão e se concentrar na China”.
Neste cenário, acrescentou Pochmann, a eleição de 2014 no Brasil é chave para os Estados Unidos. Não é pouca coisa que está em jogo no futuro político do país. “O ataque que a Petrobras vem sofrendo não é só eleitoral, mas tem também um elemento de disputa comercial dramático. O Brasil precisa ter grandes empresas, públicas e privadas, para assumir uma posição menos periférica em um mundo onde as grandes corporações econômicas são responsáveis por dois terços dos investimentos em novas tecnologias. Além isso, precisa também construir um grande bloco de investimentos, como tivemos com Getúlio e JK, com capacidade de coordenar o investimento privado no país”.
Tarefas para o futuro
O economista apontou, por fim, algumas tarefas que o PT e seus aliados têm no próximo período para garantir a continuidade e o avanço do atual projeto. Entre elas, destacou:
Construção de uma nova agenda para a classe trabalhadora: temos um grande crescimento de trabalhadores no setor de serviços, de trabalho imaterial. Cerca de 22 milhões de pessoas entraram no mercado de trabalho e que não foram para os sindicatos. Nós temos um outro tipo de trabalho hoje, com grande expansão do trabalho imaterial, onde as pessoas estão conectadas 24 horas por dia. Não sei se as instituições que temos hoje são portadoras de uma agenda para o futuro. Tivemos cerca de 40 milhões de pessoas que ascenderam socialmente. Esse é um segmento em disputa.
Revolução na Educação: por que o filho do pobre tem que entrar no mercado de trabalho antes de terminar a universidade? O país precisa desenvolver um sistema de educação contínua, uma educação para a vida toda. Todas as grandes empresas brasileiras têm hoje uma universidade corporativa. Elas têm a consciência de que é preciso aprender e capacitar durante toda a vida. As pessoas estão vivendo mais e trabalhando até mais tarde. Cerca de um terço dos aposentados e pensionistas estão trabalhando.
Jornada de Trabalho: é preciso uma CLT de novo tipo para os trabalhadores do setor imaterial (serviços). Cada vez mais as pessoas estão trabalhando muito em casa e estão trabalhando mais. Nada disso está regulamentado.
domingo, 4 de maio de 2014
A Carta-Denúncia de Andrea Haas, esposa de Henrique Pizzolato
http://www.ocafezinho.com/2014/05/02/bomba-a-carta-denuncia-de-andrea-haas-esposa-de-henrique-pizzolato/
Bomba! A Carta-Denúncia de Andrea Haas, esposa de Henrique Pizzolato
Entenda porque Pizzolato fugiu
Por Andre Haas, esposa de Henrique Pizzolato
Pizzolato veio para a Itália em busca de refúgio e do direito à justiça que lhe foram negados em um julgamento político e de exceção feito na Suprema Corte do Brasil. A carta pública amplamente divulgada no dia 15/11/2013 já deixou isso bem claro. Foi condenado sumariamente por um único tribunal, por uma única decisão. Não teve direito a nenhum recurso, não teve direito a nenhuma revisão da sentença que o condenou a 12 anos e sete meses de prisão mais multa por crimes que não cometeu e que sequer existiram. Foi “selecionado” para justificar a falsa e grave acusação que dinheiro público foi utilizado por integrantes do PT e do governo do PT para comprar apoio político em favor do governo do ex Presidente Lula. Acusação infundada. Uma grande mentira, pois o dinheiro dito público, em verdade pertencia à Visa Internacional. O dinheiro nunca pertenceu ao Banco do Brasil.
O BB Banco de Investimentos S/A era um dos 25 parceiros da Visanet que tinham obrigações de atingir metas estabelecidas pela Visa Internacional. No ano de 2000, a Visa América Latina e Caribe determinou que a Visanet participasse do “Domestic Cooperative Brand Development Fund”, serviço disponibilizado pela Visa aos membros (participantes que mantinham contrato com a Visa) com o objetivo de dar suporte ao crescimento da bandeira (marca Visa). Diante desta determinação, o Fundo de Incentivo (para marketing) Visanet foi constituído em 2001 no Brasil e, a ele, foi destinado a porcentagem de 0,1% do faturamento total da Visa no Brasil. O dinheiro deste Fundo foi disponibilizado aos bancos parceiros da Visa, que participavam da Visanet, para ser utilizado em campanhas publicitárias para promover a marca Visa. A Visanet editou um Regulamento com todas as regras que deviam ser obedecidas pelos bancos parceiros que optassem por utilizar o dinheiro do Fundo. Este Regulamento definia que instâncias diretivas próprias da Visanet tinham exclusivo poder para decidir tudo o que se referia ao dinheiro do Fundo Visanet. Desde o ano de 2001, a Visanet sempre pagou diretamente e em forma de adiantamentos para as agências de publicidade do Banco do Brasil, para que confeccionassem propagandas da marca Visa e confirmou que estas propagandas foram efetivamente realizadas. As provas e documentos que atestam estas afirmações estão no processo e comprovam que o dinheiro não era público e eram outros os funcionários do Banco do Brasil e, não Pizzolato, que tinham responsabilidade para gerir e solicitar que a Visanet efetuasse pagamentos à DNA Propaganda.
Pizzolato foi condenado por receber dinheiro, porque “liberou” dinheiro da Visanet para a agência de publicidade DNA Propaganda. Pizzolato nunca “liberou” dinheiro para a DNA. Isto era impossível. Somente o gestor, funcionário do BB da diretoria de varejo tinha este poder e de fato, todos os documentos encaminhados à Visanet, inclusive as solicitações de pagamento, foram assinados por funcionários da diretoria de varejo. Pizzolato foi acusado por “favorecer” a DNA ao prorrogar o contrato de publicidade. A prorrogação do contrato foi decidida em documento assinado pelo conselho diretor do BB (presidente e sete vice-presidentes) antes de Pizzolato assumir o cargo de diretor de marketing.
O dinheiro dito recebido por Pizzolato, foi para o Diretório do PT do Rio de Janeiro, como constam em depoimentos que estão no processo.
Muitos documentos foram desconsiderados por ministros do STF e ocultados das defesas dos réus da Ação Penal 470. Dentre eles, cito o Laudo 2828/2006 feito pela Polícia Federal que lista 15 dos maiores recebedores do dinheiro pago pela Visanet desde o ano de 2001, entre eles a Tv Globo e Casa Tom Brasil.
Se o Laudo 2828 confirma que muitas empresas foram pagas com o dinheiro da Visanet, como os acusadores podem afirmar que o mesmo dinheiro foi desviado para favorecer o PT?
Se estas empresas receberam dinheiro da Visanet, como afirma o laudo, pela lógica, a investigação deveria ter sido feita para comprovar se estas empresas realizaram efetivamente os serviços ou se desviaram o dinheiro para o “esquema” denunciado pelo ministério público.
O Laudo 2828 é emblemático para comprovar os absurdos cometidos neste julgamento, embora existam muitos outros. Foi feito pela polícia federal para investigar, contabilmente, a relação entre a Visanet e a DNA Propaganda. Documentos da Visanet e da DNA foram confiscados mediante mandado de busca e apreensão. Este laudo apesar de ter sido feito na fase de investigação, portanto, sem qualquer acompanhamento das defesas, responde quem eram os responsáveis, desde 2001, perante a Visanet e perante o Banco do Brasil para gerir o dinheiro do Fundo Visanet. Nomina quais foram as empresas, ditas “os maiores recebedores” do dinheiro destinado pelo Fundo Visanet. Pizzolato sequer é citado no laudo, pois nos documentos apreendidos não existe nenhum assinado por ele. Todos os documentos enviados pelo Banco do Brasil à Visanet foram encaminhados e assinados por outros funcionários de outra diretoria. O Laudo 2828/2006 foi feito “no interesse do inquérito 2245” como dizem os peritos no primeiro parágrafo, mas nunca constou do inquérito 2245 que investigava o chamado “escândalo do mensalão”. Este laudo apesar de já estar concluído em 20 de dezembro de 2006 – 8 meses antes do julgamento para aceitação da denúncia que ocorreu em agosto de 2007 – nunca fez parte do inquérito 2245, portanto os advogados não tiveram acesso a ele para preparar suas defesas. O laudo foi para outro inquérito de número 2474, também no STF, mas mantido em segredo de justiça pelo mesmo relator do inquérito 2245. A existência do Inquérito 2474 nunca foi informada aos advogados de defesa dos “40” réus da AP 470. O 2474 foi aberto para separar documentos de investigações que não haviam sido concluídas(!). Ora, 40 pessoas foram “eleitas” para serem denunciadas sem que as investigações tivessem sido concluídas?
E, pior, quando o inquérito 2474 foi descoberto, o acesso aos documentos foi negado aos advogados sob o argumento “… os dados constantes do presente inquérito (2474) não serão utilizados na análise dos fatos objeto da AP 470, por tratarem de fatos diversos, não havendo, portanto, qualquer cerceamento do direito de defesa…).
Como dizer que não houve cerceamento de defesa se um documento, um Laudo, que dizia respeito a todos os acusados foi ocultado de suas defesas?
Pizzolato foi acusado criminalmente por “não fiscalizar” o contrato de publicidade entre o BB e a DNA no que se refere aos “bônus de volume”, valor pago por veículos de divulgação para fidelizar (premiar) agências de publicidade e que, no entender dos acusadores, deveria ter sido devolvido ao Banco do Brasil.
Como depôs um alto executivo da Globo, não foi Pizzolato quem criou o “bônus de volume”. Não era responsabilidade dele fiscalizar os contratos do Banco do Brasil com as agências de publicidade. Esta atribuição era de outro funcionário do BB e a conferência de pagamentos e notas fiscais era feita por outra diretoria. O Banco do Brasil nunca cobrou a devolução de “bônus de volume” de nenhuma das tantas agências de publicidade contratadas, porque tal parcela nunca constou em cláusula de contrato e nem poderia constar, por se tratar de uma oferta facultativa (comissão, prêmio) oferecida às agências de publicidade por parte de empresas prestadoras de serviço, depois que as negociações, em que participavam os funcionários representantes de empresas públicas, já estavam concluídas.
Por que Pizzolato foi responsabilizado criminalmente se a permissão para o pagamento de “bônus de volume” consta em lei (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12232.htm ) e continua sendo uma relação exclusivamente privada entre as agências de publicidade e fornecedores, da qual nenhum contratante (empresas públicas) participam?
O julgamento da AP 470 foi injusto para todos. Para uns, provas e documentos foram desconsiderados, indícios prevaleceram sobre as provas, para outros, teorias “jurídicas” justificaram a falta de provas. Leis constitucionais e convenções internacionais foram desrespeitadas, o direito à defesa foi negado.
Pergunto: por quê?
Que interesses estão acima e são mais importantes para que o direito de defender a liberdade seja negado?
Para Pizzolato não existiu nenhum direito de recurso e revisão da decisão do julgamento.
Permanecer no Brasil significava sujeitar-se à uma única decisão, tomada por um único tribunal.
Significava sujeitar-se à prisão, à injustiça sem ter mais como e a quem recorrer.
Apesar da enorme tristeza e decepção com a forma como transcorreu o julgamento, enfrentamos com as forças que nos restaram de anos de agonia e lutamos com os meios que estavam ao nosso alcance para informar e denunciar os erros e irregularidades do julgamento, para divulgar as provas e documentos, que foram desconsiderados e ocultados, e que comprovam que não existiu desvio de dinheiro, muito menos de dinheiro público. Uma luta desigual diante do poder do Estado, diante do poder judiciário, que julgou e condenou desrespeitando leis e direitos fundamentais, e que continua massacrando e oprimindo pessoas que foram julgadas e condenadas em um julgamento injusto.
A decisão de vir para a Itália foi difícil e dolorida, pois significou o descrédito. Viemos buscando sobreviver à opressão, não queríamos nos render à injustiça.
Estamos nas mãos de outro Estado. Dependentes de uma decisão que o Estado italiano tomará a respeito do pedido de extradição feito pelo Procurador Geral do Brasil.
Não tenho mais certezas de nada. Gostaria de acreditar que justiça ainda possa existir em algum lugar e que uma decisão daqui pudesse reverter todas as injustiças que foram feitas no Brasil. Gostaria de acreditar que um novo julgamento possa ser feito e que este seja justo.
Mas confesso, temo pelas decisões que são tomadas politicamente que desprezam princípios e direitos e que desconsideram fatos e provas.
Andrea Haas
Bomba! A Carta-Denúncia de Andrea Haas, esposa de Henrique Pizzolato
Entenda porque Pizzolato fugiu
Por Andre Haas, esposa de Henrique Pizzolato
Pizzolato veio para a Itália em busca de refúgio e do direito à justiça que lhe foram negados em um julgamento político e de exceção feito na Suprema Corte do Brasil. A carta pública amplamente divulgada no dia 15/11/2013 já deixou isso bem claro. Foi condenado sumariamente por um único tribunal, por uma única decisão. Não teve direito a nenhum recurso, não teve direito a nenhuma revisão da sentença que o condenou a 12 anos e sete meses de prisão mais multa por crimes que não cometeu e que sequer existiram. Foi “selecionado” para justificar a falsa e grave acusação que dinheiro público foi utilizado por integrantes do PT e do governo do PT para comprar apoio político em favor do governo do ex Presidente Lula. Acusação infundada. Uma grande mentira, pois o dinheiro dito público, em verdade pertencia à Visa Internacional. O dinheiro nunca pertenceu ao Banco do Brasil.
O BB Banco de Investimentos S/A era um dos 25 parceiros da Visanet que tinham obrigações de atingir metas estabelecidas pela Visa Internacional. No ano de 2000, a Visa América Latina e Caribe determinou que a Visanet participasse do “Domestic Cooperative Brand Development Fund”, serviço disponibilizado pela Visa aos membros (participantes que mantinham contrato com a Visa) com o objetivo de dar suporte ao crescimento da bandeira (marca Visa). Diante desta determinação, o Fundo de Incentivo (para marketing) Visanet foi constituído em 2001 no Brasil e, a ele, foi destinado a porcentagem de 0,1% do faturamento total da Visa no Brasil. O dinheiro deste Fundo foi disponibilizado aos bancos parceiros da Visa, que participavam da Visanet, para ser utilizado em campanhas publicitárias para promover a marca Visa. A Visanet editou um Regulamento com todas as regras que deviam ser obedecidas pelos bancos parceiros que optassem por utilizar o dinheiro do Fundo. Este Regulamento definia que instâncias diretivas próprias da Visanet tinham exclusivo poder para decidir tudo o que se referia ao dinheiro do Fundo Visanet. Desde o ano de 2001, a Visanet sempre pagou diretamente e em forma de adiantamentos para as agências de publicidade do Banco do Brasil, para que confeccionassem propagandas da marca Visa e confirmou que estas propagandas foram efetivamente realizadas. As provas e documentos que atestam estas afirmações estão no processo e comprovam que o dinheiro não era público e eram outros os funcionários do Banco do Brasil e, não Pizzolato, que tinham responsabilidade para gerir e solicitar que a Visanet efetuasse pagamentos à DNA Propaganda.
Pizzolato foi condenado por receber dinheiro, porque “liberou” dinheiro da Visanet para a agência de publicidade DNA Propaganda. Pizzolato nunca “liberou” dinheiro para a DNA. Isto era impossível. Somente o gestor, funcionário do BB da diretoria de varejo tinha este poder e de fato, todos os documentos encaminhados à Visanet, inclusive as solicitações de pagamento, foram assinados por funcionários da diretoria de varejo. Pizzolato foi acusado por “favorecer” a DNA ao prorrogar o contrato de publicidade. A prorrogação do contrato foi decidida em documento assinado pelo conselho diretor do BB (presidente e sete vice-presidentes) antes de Pizzolato assumir o cargo de diretor de marketing.
O dinheiro dito recebido por Pizzolato, foi para o Diretório do PT do Rio de Janeiro, como constam em depoimentos que estão no processo.
Muitos documentos foram desconsiderados por ministros do STF e ocultados das defesas dos réus da Ação Penal 470. Dentre eles, cito o Laudo 2828/2006 feito pela Polícia Federal que lista 15 dos maiores recebedores do dinheiro pago pela Visanet desde o ano de 2001, entre eles a Tv Globo e Casa Tom Brasil.
Se o Laudo 2828 confirma que muitas empresas foram pagas com o dinheiro da Visanet, como os acusadores podem afirmar que o mesmo dinheiro foi desviado para favorecer o PT?
Se estas empresas receberam dinheiro da Visanet, como afirma o laudo, pela lógica, a investigação deveria ter sido feita para comprovar se estas empresas realizaram efetivamente os serviços ou se desviaram o dinheiro para o “esquema” denunciado pelo ministério público.
O Laudo 2828 é emblemático para comprovar os absurdos cometidos neste julgamento, embora existam muitos outros. Foi feito pela polícia federal para investigar, contabilmente, a relação entre a Visanet e a DNA Propaganda. Documentos da Visanet e da DNA foram confiscados mediante mandado de busca e apreensão. Este laudo apesar de ter sido feito na fase de investigação, portanto, sem qualquer acompanhamento das defesas, responde quem eram os responsáveis, desde 2001, perante a Visanet e perante o Banco do Brasil para gerir o dinheiro do Fundo Visanet. Nomina quais foram as empresas, ditas “os maiores recebedores” do dinheiro destinado pelo Fundo Visanet. Pizzolato sequer é citado no laudo, pois nos documentos apreendidos não existe nenhum assinado por ele. Todos os documentos enviados pelo Banco do Brasil à Visanet foram encaminhados e assinados por outros funcionários de outra diretoria. O Laudo 2828/2006 foi feito “no interesse do inquérito 2245” como dizem os peritos no primeiro parágrafo, mas nunca constou do inquérito 2245 que investigava o chamado “escândalo do mensalão”. Este laudo apesar de já estar concluído em 20 de dezembro de 2006 – 8 meses antes do julgamento para aceitação da denúncia que ocorreu em agosto de 2007 – nunca fez parte do inquérito 2245, portanto os advogados não tiveram acesso a ele para preparar suas defesas. O laudo foi para outro inquérito de número 2474, também no STF, mas mantido em segredo de justiça pelo mesmo relator do inquérito 2245. A existência do Inquérito 2474 nunca foi informada aos advogados de defesa dos “40” réus da AP 470. O 2474 foi aberto para separar documentos de investigações que não haviam sido concluídas(!). Ora, 40 pessoas foram “eleitas” para serem denunciadas sem que as investigações tivessem sido concluídas?
E, pior, quando o inquérito 2474 foi descoberto, o acesso aos documentos foi negado aos advogados sob o argumento “… os dados constantes do presente inquérito (2474) não serão utilizados na análise dos fatos objeto da AP 470, por tratarem de fatos diversos, não havendo, portanto, qualquer cerceamento do direito de defesa…).
Como dizer que não houve cerceamento de defesa se um documento, um Laudo, que dizia respeito a todos os acusados foi ocultado de suas defesas?
Pizzolato foi acusado criminalmente por “não fiscalizar” o contrato de publicidade entre o BB e a DNA no que se refere aos “bônus de volume”, valor pago por veículos de divulgação para fidelizar (premiar) agências de publicidade e que, no entender dos acusadores, deveria ter sido devolvido ao Banco do Brasil.
Como depôs um alto executivo da Globo, não foi Pizzolato quem criou o “bônus de volume”. Não era responsabilidade dele fiscalizar os contratos do Banco do Brasil com as agências de publicidade. Esta atribuição era de outro funcionário do BB e a conferência de pagamentos e notas fiscais era feita por outra diretoria. O Banco do Brasil nunca cobrou a devolução de “bônus de volume” de nenhuma das tantas agências de publicidade contratadas, porque tal parcela nunca constou em cláusula de contrato e nem poderia constar, por se tratar de uma oferta facultativa (comissão, prêmio) oferecida às agências de publicidade por parte de empresas prestadoras de serviço, depois que as negociações, em que participavam os funcionários representantes de empresas públicas, já estavam concluídas.
Por que Pizzolato foi responsabilizado criminalmente se a permissão para o pagamento de “bônus de volume” consta em lei (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12232.htm ) e continua sendo uma relação exclusivamente privada entre as agências de publicidade e fornecedores, da qual nenhum contratante (empresas públicas) participam?
O julgamento da AP 470 foi injusto para todos. Para uns, provas e documentos foram desconsiderados, indícios prevaleceram sobre as provas, para outros, teorias “jurídicas” justificaram a falta de provas. Leis constitucionais e convenções internacionais foram desrespeitadas, o direito à defesa foi negado.
Pergunto: por quê?
Que interesses estão acima e são mais importantes para que o direito de defender a liberdade seja negado?
Para Pizzolato não existiu nenhum direito de recurso e revisão da decisão do julgamento.
Permanecer no Brasil significava sujeitar-se à uma única decisão, tomada por um único tribunal.
Significava sujeitar-se à prisão, à injustiça sem ter mais como e a quem recorrer.
Apesar da enorme tristeza e decepção com a forma como transcorreu o julgamento, enfrentamos com as forças que nos restaram de anos de agonia e lutamos com os meios que estavam ao nosso alcance para informar e denunciar os erros e irregularidades do julgamento, para divulgar as provas e documentos, que foram desconsiderados e ocultados, e que comprovam que não existiu desvio de dinheiro, muito menos de dinheiro público. Uma luta desigual diante do poder do Estado, diante do poder judiciário, que julgou e condenou desrespeitando leis e direitos fundamentais, e que continua massacrando e oprimindo pessoas que foram julgadas e condenadas em um julgamento injusto.
A decisão de vir para a Itália foi difícil e dolorida, pois significou o descrédito. Viemos buscando sobreviver à opressão, não queríamos nos render à injustiça.
Estamos nas mãos de outro Estado. Dependentes de uma decisão que o Estado italiano tomará a respeito do pedido de extradição feito pelo Procurador Geral do Brasil.
Não tenho mais certezas de nada. Gostaria de acreditar que justiça ainda possa existir em algum lugar e que uma decisão daqui pudesse reverter todas as injustiças que foram feitas no Brasil. Gostaria de acreditar que um novo julgamento possa ser feito e que este seja justo.
Mas confesso, temo pelas decisões que são tomadas politicamente que desprezam princípios e direitos e que desconsideram fatos e provas.
Andrea Haas
sábado, 3 de maio de 2014
Classe Média: Como é difícil carregar o Brasil nas costas
http://www.hariovaldo.com.br/site/2014/05/03/classe-media-como-e-dificil-carregar-o-brasil-nas-costas/
O debate proposto aborda um tema de extrema complexidade, sensível e muito abrangente. Mantendo o rigor científico, junto aos mais elevados sentimentos que garantem a ordem social, trataremos da delicada situação em que vive a classe média tradicional. A que sofre e pede socorro. Aquela que ao longo dos séculos enfrenta galhardamente as investidas comunistas, e hoje, neste recanto abandonado pelos céos, vive seu pior momento.
A classe média carrega o Brasil nas costas. Submetida ao escárnio e deboche, vilipendiada por escorchantes impostos que lhes são surrupiados, assiste perplexa o descaminho de seu sacrifício, sem obter qualquer retorno. Até mesmo a Segurança, a Saúde e a Educação são bancadas de seu próprio bolso, com custo astronômico. Mazelas de um estado incompetente e insensível aos clamores da sociedade.
O suor de seu trabalho é transformado em bolsas. Milhares delas. Que alimentam a vagabundagem. Ainda, é subjugada pelas cotas, que estimulam o racismo e preconceitos, com ignominiosos propósitos de privilegiar parasitas sem mérito, disputando covardemente vagas em emprego e universidades, com uma gente feia, que não quer trabalhar, ou estudar.
Peor, os flagelos dessa ditadura comunista vão além. A proibição de adquirir carros de luxo, se vestir com roupas de marca, celulares diferenciados e consumo de tecnologia em geral, frequentar restaurantes, cinemas, shoppings e baladas, morar nos bairros mais elegantes, extensões universitárias aqui ou no exterior, boa alimentação, eletrodomésticos (isso parece vulgar), empregadas domésticas de baixo custo, e por aí vai. Enfim, um quadro melancólico de privações e humilhação. Inevitavelmente lembra-se dos paradisíacos tempos FHCânus, quando nenhuma restrição existia. E maes, quando vão tomar um banho de civilização indo a Maiami para as compras, ou passear na Disney, enfrentam Aeroportos parecidos com rodoviárias, repletos de pessoas repugnáveis. É preciso entender as razões naturaes condicionantes. A classe média não tem seus próprios meios de transporte intercontinentais (e assim deve ser). Portanto, ficam a mercê d’essas condições sub-humanas. Sem falar em atrasos de voos, que em Paris pode ser agradável, mas aqui neste bananal, deve ser terrível.
A resistência é espartana. Combatem a radicalização populista desse (des)governo que aí está, movidos por refinada intelectualidade, cultura, elevados ideais, altruísmo e sensibilidade. Travam lutas dignificantes principalmente no mundo cibernético computadorizado do internet, onde exalam educação, aguçada estratégia, complexa argumentação, tornando-se um meio eficaz para lidar com aquela realidade.
Dentre os pontos pétreos a se monitorar e manter inclui-se não se limitando a:
- Colocar abaixo do chão as menções a este sôfrego rincão, comparando e enaltecendo as virtudes do North; isso é importante por lhes dar uma sensação de pertencer a uma raça superior, aliviando os complexos. Nunca entrar em discussões subversivas sobre soberania.
- Desqualificar veementemente todas as iniciativas e projectos desse governo que aí está, demonizando e desmoralizando todos os líderes e integrantes. Comparar com antigos governantes, jamais. Quando necessário, utilizar corretamente o chavão que todos os políticos são iguais, conforme lhes ensinamos.
- Seguir fielmente a doutrinação da Proba Imprensa Gloriosa, conforme a pauta pré-aprovada por nós da classe A++++. Por lá encontram excelentes colunistas, e porta vozes de nossos mais elevados interesses, principalmente ao mantê-los na órbita de discussões que se limitam a: corrupção, educação, saúde, segurança, não vai ter copa, transporte público, preconceitos classistas sociais, de gênero, de opção sexual, de religião, e outros dessa ordem. Esses temas ocupar-lhes-ão, de modo que jamais vão enveredar por interpretações críticas do contexto geral. Isso é uótemo.
Enfim, homens de Bens e Benz, mister se faz, urge pois, dar guarida aos desabafos da classe média, que sofre e pede socorro, fazendo-os crer que nos solidarizamos e damos amparo às suas reivindicações. Antes que percebam que a cenoura de milhões de dólares presa ao pescoço se mantém à distância constante de suas bocas, gerando riscos de desistirem da útil servidão como fiéis escudeiros. Imaginem um dia termos que sujar as mãos na tal luta de classes. Céos! Como diria Xram Lrak: “homens bons de todo mundo, uni-vos; classe média continue assim”.
Saudações Homembonísticas.
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Pirâmide social vira losango
http://opiniaoenoticia.com.br/economia/o-fim-da-piramide-social/#.U2Jo4uyMutQ.facebook
O fim da pirâmide social
De acordo com a pesquisa “O observador 2011″, encomendada pela financeira Cetelem BGN, 19 milhões de brasileiros deixaram as classes DE e migraram para a classe C no ano passado.
Com isso, a classe C chegou a 53% da população brasileira em 2010, totalizando 101 milhões de pessoas e modificando o formato da pirâmide social. Em 2009, 49% da população pertencia à classe C.
A Cetelem mostrou que atualmente as classes DE correspondem a 25% da população brasileira (47,9 milhões) e as classes AB correspondem a 21% (42,19 milhões).
A pesquisa é feita desde 2005. Naquela época, o formato em que a população estava distribuída era o de uma pirâmide, com um maior número de brasileiros concentrados nas classes DE, depois na classe C e por último nas classes AB.
Por causa do número de brasileiros que migrou para a classe C e a maior concentração de pessoas nesse estrato, agora a figura geométrica que melhor define a divisão de classes no país é o losango, e não mais a pirâmide. Entre os motivos para esta mudança estão o aumento da renda e do emprego.
O fim da pirâmide social
De acordo com a pesquisa “O observador 2011″, encomendada pela financeira Cetelem BGN, 19 milhões de brasileiros deixaram as classes DE e migraram para a classe C no ano passado.
Com isso, a classe C chegou a 53% da população brasileira em 2010, totalizando 101 milhões de pessoas e modificando o formato da pirâmide social. Em 2009, 49% da população pertencia à classe C.
A Cetelem mostrou que atualmente as classes DE correspondem a 25% da população brasileira (47,9 milhões) e as classes AB correspondem a 21% (42,19 milhões).
A pesquisa é feita desde 2005. Naquela época, o formato em que a população estava distribuída era o de uma pirâmide, com um maior número de brasileiros concentrados nas classes DE, depois na classe C e por último nas classes AB.
Por causa do número de brasileiros que migrou para a classe C e a maior concentração de pessoas nesse estrato, agora a figura geométrica que melhor define a divisão de classes no país é o losango, e não mais a pirâmide. Entre os motivos para esta mudança estão o aumento da renda e do emprego.
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