quinta-feira, 19 de junho de 2014

O SENTIMENTO NACIONAL

http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/143533/O-sentimento-nacional.htm


O Brasil só começou a se pensar como pais, como nação, como povo, a partir da chegada do Getúlio ao poder. Antes, vivíamos para fora e desde fora. Economia exportadora e importadora, sem produção nacional, sem mercado interno importante.

Se pensar como país é concomitante a ter sentimento nacional, ter auto estima. Não foi por acaso que Fernando Collor e FHC atentaram fortemente contra a nossa autoestima, para poder implementar o modelo econômico mais antinacional e antipopular: o modelo neoliberal, que escancarava o país para a exploração externa.

Collor atacou os servidores públicos como “marajás” e os carros produzidos aqui – como metáfora de toda a indústria – como “carroças”. FHC atacou os servidores públicos e os aposentados como “preguiçosos”. Para isso, FHC disse que ia “virar a página do getulismo”, porque queria liquidar o sentimento nacional e as conquistas dos trabalhadores.

A vitória do Lula e o sucesso do seu governo foram o maior incentivo à autoestima dos brasileiros, a que nos repensemos como país no mundo, como tipo de sociedade que queremos e podemos construir. Ter orgulho de novo de ser brasileiro é a alavanca para todos os outros avanços do país.

Todos os grandes movimentos populares de transformação do mundo tiveram um componente indispensável no sentimento nacional. A Revolução Russa se fez, também, como reação ao avassalamento do país, derrotado na guerra contra o Japão e tornado servil aos interesses das grandes potencias imperialistas, a Inglaterra e a França.

Posteriormente, a resistência soviética à invasão alemã, a derrota do exército nazista e o avanço para derrubar o regime do Hitler – o que mudou o curso da segunda guerra e da própria historia -, se fez em nome da Grande Guerra Patriótica, como resistência do povo contra a invasão alemã.

A Revolução Chinesa foi possível como desdobramento da expulsão da invasão japonesa e da norte-americana, com um profundo sentimento nacional e orgulho de serem chineses, que hoje eles voltam a exibir. A Revolução Vietnamita foi uma revolução profundamente nacional nas suas origens, para expulsar os norte-americanos e derrotar o regime fantoche que eles tinham instalado no sul do país.

A Revolução Cubana foi, antes de tudo, uma revolução democrática e nacional, contra a ditadura pró norte-americana do Batista. Da mesma forma que a nicaraguense, contra a ditadura dos Somoza.

Esse componente nacional é chave na disputa política e ideológica. O que provavelmente mais dói na direita brasileira e nos seus aliados internacionais, foi a capacidade do Lula de levantar bem alto o orgulho de sermos brasileiros, a possibilidade de que o país dê certo, de que podemos e devemos seguir nosso próprio caminho, aliado aos países da região e do Sul do mundo, sem nos subordinarmos aos EUA.

A operação antibrasileira em curso atualmente, aqui dentro e desde fora do país – tem o objetivo de destruir a imagem do Brasil do Lula. Do país que mais luta contra a fome no mundo, que mais diminui a desigualdade, que cresce distribuindo renda, que se afirma como país soberano. Para isso tem que difundir esse clima de pessimismo, veiculado pelo monopólio antidemocratico da mídia.

Que o governo é incompetente, corrupto, que tudo que é comandado desde o Estado não dá certo. Que o país trilhou um caminho errado distanciando-se dos EUA e dos modelos centrados no mercado. Que os salários são os responsáveis pela diminuição do ritmo de crescimento e não a especulação financeira.

Em suma, precisam voltar a derrubar a autoestima dos brasileiros, voltando ao fatalismo de que não teríamos jeito. Quem contribui para isso, conscientemente ou não, pela direita ou pela ultraesquerda – queimando bandeiras do Brasil, torcendo contra a seleção, não valorizando todos os avanços na situação do povo – faz o jogo da direita, dos retrocessos. Que somente são possíveis com um povo desmoralizado, derrotado, sem auto estima, sem sentimento nacional.

sábado, 14 de junho de 2014

A casa grande declarou guerra

http://www.ocafezinho.com/2014/06/13/a-casa-grande-declarou-guerra/

O Brasil ganhou da Croácia e quase tudo deu certo na estreia da Copa. A um grupo de endinheirados truculentos coube o papel de nos fazer passar vexame.
Nenhum brasileiro foi tão lembrado ontem e hoje como Nelson Rodrigues. Os elementos de suas crônicas estavam todos lá: os vira-latas, os grã-finos, as vaias, o futebol, a vitória da seleção. A própria Dilma encarnou a heroína rodriguiana. Aliás, de repente nunca ficou tão claro como Dilma nos lembra um personagem de Nelson. Desajeitada, sem graça, trabalhadora, esforçada, ética. Sujeita a terríveis pressões políticas, morais, psicológicas. Nosso maior assombro é que Dilma possa sobreviver a tudo isso.
Nelson comentou, certa feita, uma experiência similar sofrida por Paulo Cézar Caju, ponta-esquerda da seleção, na Copa de 70:
Paulo Cézar sofreu uma experiência inédita: — uma vaia de noventa minutos. Isso corresponde a um linchamento. Só não entendo, até hoje, como ele conseguiu sobreviver. Nem se pense que foi ele o único. Mas não vamos amaldiçoar as vaias ao escrete. Elas o fizeram, elas o virilizaram. A jornada brasileira no México é uma vingança contra as vaias.
A mesma coisa valerá para Dilma. Se sobreviver a esta nova onda de hostilidades da classe média, ela poderá emergir fortalecida pelo sofrimento.
Nelson diria que os xingamentos “humanizaram” a presidente. Ela voltou a ser um igual, uma sofredora. O Brasil não amanheceu pensando na seleção. Amanheceu pensando em Dilma. Com raiva, com pena, com solidariedade, não importa o sentimento. Todos acordaram pensando nela.
Em junho de 1970, Nelson iniciava sua coluna diária assim: “Por que o Brasil não gosta do Brasil e por que nos falta um mínimo de autoestima? É a pergunta que me faço, sem lhe achar a resposta.”
Em seguida, Nelson analisa a Passeata dos Cem Mil, com uma crítica à esquerda. Uma crítica correta, sobretudo quando a lemos hoje:
Quem quiser entender as nossas elites e o seu fracasso encontrará nos Cem Mil um dado essencial. Não havia, ali, um único e escasso preto. E nem operário, nem favelado, e nem torcedor do Flamengo, e nem barnabé, e nem pé-rapado, nem cabeça de bagre. Eram os filhos da grande burguesia, os pais da grande burguesia, as mães da grande burguesia. Portanto, as elites.
Só que a “passeata dos 100 mil”, hoje, não se identifica mais com a esquerda. A classe média brasileira continua bipolar. Num dia, marcha com a família e pede o fim do governo. No outro, marcha com os intelectuais e pede o fim da ditadura.
Um dia acha o governo Dilma o melhor de todos os governos: uma mistura benigna da solidariedade do PT para com os mais pobres, somada à severidade em relação à imagem na mídia dos tucanos.
Sim, durante um bom tempo, os segmentos de maior renda deram ao governo Dilma a maior aprovação que talvez já tenham dado a uma administração.
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Em abril de 2012, 70% das famílias com renda superior a 10 salários consideravam o governo Dilma “bom ou ótimo”; apenas 2% consideravam-no “ruim ou péssimo”. Hoje, 48% acham seu governo ruim e apenas 23% gostam dele.
Não vou falar hoje das notórias falhas de comunicação do governo Dilma. Mas vou trazer alguns dados interessantes que andei estudando nas últimas horas.
É interessante analisar, por exemplo, as licenças televisivas vendidas pela Fifa para a Copa.
Em quase todos os países europeus, com exceção da França, a Copa será exibida por canais públicos. Na Inglaterra, será, naturalmente, a BBC. Na Alemanha, o ARD.  Na maioria dos outros, será o EBU, o canal público da União Europeia.
No caso da França, será o TF1, um canal que pertencia ao Estado até o final dos anos 80, quando foi privatizado, mas guarda ainda a sobriedade de um canal público.
Nos EUA, a licença foi vendida para a ABC, o maior canal aberto do país. Isso me despertou a curiosidade para saber como é a ABC, como ela se porta politicamente. Então descobri análises (aqui também) que mostram a ABC como um canal de perfil pró-democrata, o que, nos EUA de hoje significa estar alinhado à esquerda no espectro ideológico médio nacional. Agradou-me, sobretudo, o fato de uma instituição renomada como a Pew fazer pesquisas tão detalhadas sobre as empresas de mídia nos EUA, analisando o viés político e ideológico de cada uma. No Brasil, a mídia não é pesquisada, não é debatida, não é analisada, a não ser pela blogosfera “suja”. A mídia brasileira paira acima do bem e do mal.
Aliás, acabei descobrindo várias coisas interessantes sobre a mídia norte-americana, que podemos discutir depois, sobretudo a partir desta pesquisa Pew, bastante recente.
Rápida digressão.
Há uma outra pesquisa extremamente interessante da Pew, que vamos debater aqui em breve, que fala do forte aumento da polarização política nos EUA, com mais republicanos se dizendo de direita e mais democratas se dizendo de esquerda.  Parece que é uma tendência global, e o Brasil pode estar também entrando nessa onda.
“Hoje, 92% dos republicanos estão à direita do democrata médio, e 94% dos democratas estão à esquerda do republicano médio”, diz a pesquisa.
Alguns gráficos:

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Voltando ao Brasil e ao jogo de ontem, os xingamentos à presidenta corresponderam, de certa maneira, a uma vingança do “controle remoto”. A Globo é a única licenciada para exibir os jogos. Ela vendeu o direito à Band, mas a sua hegemonia na cobertura televisiva do evento é absoluta.
Dilma disse que, se não gostássemos de um canal, podíamos usar o controle remoto. E agora, que a Copa só pode ser vista praticamente num só canal, na Globo? Cadê o poder do controle remoto?
Durante 30 dias, a Globo terá um poder monstruoso sobre a sociedade brasileira. E ela não irá usá-lo com moderação, como já deixou bem claro. Há tempos que esta Copa se tornou a mais politizada da história. Muito mais até do que em 1970, na ditadura. Em 70, não havia eleições, a imprensa era controlada (ou auto-controlada) e a disputa simbólica não tinha tanta importância. As Copas recentes aconteceram em países distantes. Não era interesse da mídia mostrar seus problemas, apenas faturar o máximo com o evento.
À presidente, na minha opinião, cabe entender que o xingamento que recebeu não foi apenas à sua pessoa. Todos nós, que defendemos políticas sociais para os pobres, também fomos xingados. Sim, porque a Dilma que foi xingada não foi aquela que fez omeletes com Ana Maria Braga. A Dilma que foi xingada foi a Dilma que aumentou o bolsa família, que expandiu os investimentos em educação e que levou médicos a regiões e cidades que nunca viram um em séculos.
A Dilma que foi xingada foi a protagonista do processo mostrado no gráfico abaixo:
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Observe que, em 1992, os 50% mais pobres detinham 13,11% da renda nacional; ao fim de 2002, sua participação diminuíra para 12,98%. Ao final de 2012, atingiu o recorde de 16,36%.
Aí houve uma crise de pânico da classe média, porque chegamos, talvez, ao limite onde o pobre não irá avançar sem tirar do rico. É o que já começou a acontecer.  Quando a empregada doméstica começa a erguer a cabeça para responder ao patrão, e a exigir não apenas salário maior mas uma relação profissional mais igualitária, aí sim a classe média sente que o processo de mudança está afetando, diretamente, sua qualidade de vida. A classe média brasileira está apavorada diante da possibilidade de ter de arrumar a própria casa.
E os pobres que ascenderam à classe média talvez estejam absorvendo os mesmos valores. É o sentimento egoísta de querer trancar a porta depois de entrar na festa. Só que a festa não acabou. O Brasil ainda é um dos países mais desiguais do mundo. Ainda há muito pobre do lado de fora.
É importante entender: o que assistimos ontem no Itaquerão não foram vaias. Não foi sequer um xingamento. Aquilo foi uma declaração de guerra. A luta de classes voltou com muita força no Brasil, com todos os seus graves riscos à estabilidade social e política.
A democracia é um regime arriscado, até porque tem a vantagem de poder corrigir seus erros em seguida. Tocqueville observava que “a democracia não pode obter a verdade de outra forma que não pela experiência”. No caso dos Estados Unidos, diz ele, o  grande privilégio de seu povo “não era ser mais esclarecido que outros, mas ter a faculdade de cometer erros que podiam ser corrigidos em seguida”.
O escritor nos lembra ainda que as nações não envelhecem da mesma maneira que os homens, pois “cada geração que nasce é como um povo novinho em folha que se oferece às lideranças políticas”.
Esse é o grande trunfo da oposição, e Lula tem repetido isso frequentemente. A sociedade mudou, porque há novas gerações de eleitores, que já não carregam, na memória da carne, as dores causadas pelos maus governos anteriores, dos governos apoiados por nossas mídias.
As eleições deste ano serão as mais classistas da nossa democracia. Dilma ganhará com os votos daqueles que ainda não entraram na festa, dos pobres que ganham até um salário mínimo, dos nordestinos, das populações das cidades pequenas, das franjas miseráveis das periferias urbanas.
Por isso é tão importante que haja um movimento efetivo para democratizar a mídia, para que os valores e os projetos interessados no destino da parte mais pobre da população não fiquem abafados pelos xingamentos da Casa Grande.
É importante que o governo entenda que democratizar a mídia não é um debate político, não é uma teoria acadêmica, não é uma polêmica desagradável, que “pega mal” na mídia. Não adianta a presidenta dizer que aceita discutir uma regulamentação “econômica” da midia, ou o PT incluir o tema na campanha.
A democratização da mídia, estamos avisando há tempos, é urgente. Não interessa se é ano de eleição. Aliás, justamente pelo fato de ser ano de eleição ela ganha uma urgência trágica, porque o ambiente midiático atual apenas favorece a Casa Grande, que ampliará seu poder, obterá vitórias políticas e tratará de afastar o tema da pauta. Teremos que esperar mais uma década para voltar a discuti-lo.
Os esquálidos, as grã-finas, os truculentos, os que se comprazem em pagar quase mil reais para xingar a presidenta, os que idolatram o “justiceiro” Joaquim Barbosa, estão armados até os dentes para defender seus interesses. Para eles, agora vale tudo. Dilma pode ter mais tempo de TV, mas a oposição terá a grande inteira de programação.
O governo, mais que nunca, dependerá da combatividade de seu exército liliputiano, de seu exército mambembe, machucado pelos bombardeios diários da imprensa conservadora, criminalizado, chamado de “guerrilha”, sujeito a todo tipo de devassas judiciais, atacado por hackers mercenários, ridicularizado quase diariamente pela grande mídia, que também tem narinas de cadáver. Um exército de garrinchas de perna torta, de cachaceiros, de cidadãos cujo único patrimônio é sua criatividade.
Numa de suas crônicas, Nelson lembra que a vitória de 62, proporcionada por Garrincha, permitiu “ao mais indigente dos brasileiros tecer a sua fantasia de onipotência”, e que “as multidões, sem que ninguém pedisse, e sem que ninguém lembrasse, as massas derrubaram os portões”.
O gráfico abaixo, feito a partir dos últimos números do Ibope para o provável segundo turno das eleições deste ano, nos dão uma ideia de que lado, ao menos por enquanto, estão as “massas”…
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sexta-feira, 6 de junho de 2014

ODEBRECHT DÁ OLÉ NO “NÃO VAI TER COPA”


http://www.conversaafiada.com.br/economia/2014/06/06/odebrecht-da-ole-no-nao-vai-ter-copa/#.U5I4Bk1aIts.facebook

Qual, afinal, o custo do estádio do Corinthians? Ninguém mais apto a responder que Marcelo Odebrecht, dono da construtora contratada para tanto. Ele esclarece que o total chega a R$ 985 milhões. “Esse custo é 50% inferior ao da arena de Brasília e 30% superior ao do estádio de Manaus”, compara. Nessa conta, segundo ele, é preciso considerar componentes como a complexidade do projeto, tamanho, materiais usados e padrão de acabamento. “A qualidade da casa da Fiel é superior – e tem um bando de loucos para dar sustentabilidade econômica a ela. Mas tivemos de financiar um valor maior, decorrente do atraso dos financiamentos e da emissão de, assim como para pagar as estruturas provisórias para a Copa.” Sobre o laudo do acidente ocorrido em novembro, que causou a morte de dois operários, Marcelo prefere não comentar. A seguir, a conversa do empresário com a coluna.

Por que as obras do Itaquerão atrasaram?
Da parte do Corinthians e da Odebrecht, não houve atraso. Pelo contrário, considerando que a obra começou depois das outras arenas. Entregamos o prometido dia 15 de abril. O atraso está nos assentos e estruturas provisórias, que não fazem parte do escopo da Odebrecht.


Mas vocês não entregaram o estádio inacabado?
Entregamos o estádio pronto para receber as estruturas provisórias. Os vidros, que fazem parte das extremidades das coberturas leste e oeste, serão instalados após o Mundial, como definido pelo Corinthians.


Quanto dinheiro público foi gasto nessa obra?
Esse é o maior mal-entendido da Copa. A resposta é: nenhum! A menos que se considere gasto público o financiamento da Caixa para a casa própria de um cidadão. O Corinthians levantou um financiamento imobiliário para sua casa e vai pagá-lo como qualquer um. Fala-se também que a Prefeitura de SP colocou dinheiro na arena – outra falácia. A Prefeitura emitiu CIDs, conforme lei existente e que beneficia outros projetos destinados a desenvolver as regiões mais carentes de SP. Após a conclusão da arena, esses CIDs serão usados para pagar tributos em um valor menor que o incremento de arrecadação a ser propiciado pela própria arena. Muito em linha com o feito há anos para o investimento em projetos Brasil afora. A verdade é que o Corinthians, com apoio da Odebrecht, bancou a Copa em SP, assumindo gastos adicionais para a construção e as estruturas provisórias de uma arena para a abertura de um Mundial, poupando os cofres públicos em mais de R$ 500 milhões.


O Brasil vai passar vergonha na Copa, como disse Ronaldo?
Vamos mostrar ao mundo quem somos – as nossas belezas e carências. Vergonha só se tivermos manifestações violentas. Ou se perdermos feio em campo.


Se algo der errado na abertura, de quem será a culpa?

Depende do que der errado e de quem for o responsável. Falhas e acertos serão potencializados em função do resultado do jogo.


Qual sua opinião sobre o laudo do Instituto de Criminalística sobre o acidente de novembro em Itaquera?
Não posso comentar, porque nossa equipe nem sequer teve acesso a seu conteúdo e, por conseguinte, às premissas, ensaios e fatos que o embasaram. De qualquer forma, a Odebrecht apresentou ao IC um detalhado estudo, de autoria do prof. Roberto Kochen, demonstrando a plena capacidade do solo, cuja conclusão foi corroborada por outros renomados especialistas. O que mais nos incomoda nessa apuração é o fato de a empresa fabricante do guindaste acidentado jamais ter apresentado os dados da caixa-preta do equipamento, que podem ser determinantes para revelar a causa do acidente.


Para que time você torce?
Brasil, no campo e fora dele.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Ao contrário de alguns, não sinto nenhuma vergonha de meu país

Marcelo Zero*

Ao contrário de alguns, não sinto nenhuma vergonha do meu país.

Não sinto vergonha dos 36 milhões de brasileiros que conseguiram sair daquilo que Gandhi chamava de a "pior forma de violência", a miséria.

Agora, eles podem sonhar mais e fazer mais. Tornaram-se cidadãos mais livres e críticos. Isso é muito bom para eles e muito melhor para o Brasil, que fica mais justo e fortalecido. E isso é também muito bom para mim, embora eu não me beneficie diretamente desses programas. Me agrada viver em um país que hoje é um pouco mais justo do que era no passado.

Também não sinto vergonha dos 42 milhões de brasileiros que, nos últimos 10 anos, ascenderam à classe média, ou à nova classe trabalhadora, como queiram.

Eles dinamizaram o mercado de consumo de massa brasileiro e fortaleceram bastante a nossa economia. Graças a eles, o Brasil enfrenta, em condições bem melhores que no passado, a pior crise mundial desde 1929. Graças a eles, o Brasil está mais próspero, mais sólido e menos desigual. Ao contrário de alguns, não me ressinto dessa extraordinária ascensão social. Sinto-me feliz em tê-los ao meu lado nos aeroportos e em outros lugares antes reservados a uma pequena minoria. Sei que, com eles, o Brasil pode voar mais alto.

Não tenho vergonha nenhuma das obras da Copa, mesmo que algumas tenham atrasado. Em sua maioria, são obras que apenas foram aceleradas pela Copa. São, na realidade, obras de mobilidade urbana e de aperfeiçoamento geral da infraestrutura que melhorarão a vida de milhões de brasileiros. Estive no aeroporto de Brasília e fiquei muito bem impressionado com os novos terminais e com a nova facilidade de acesso ao local. Mesmo os novos estádios, que não consumiram um centavo sequer do orçamento, impressionam. Lembro-me de velhos estádios imundos, inseguros, desconfortáveis e caindo aos pedaços. Me agrada saber que, agora, os torcedores vão ter a sua disposição estádios decentes. Acho que eles merecem. Me agrada ainda mais saber que tido isso vem sendo construído com um gasto efetivo que representa somente uma pequena fração do que é investido em Saúde e Educação. Gostaria, é claro, que todas as obras do Brasil fossem muito bem planejadas e executadas. Que não houvesse aditivos, atrasos, superfaturamentos e goteiras. Prefiro, no entanto, ver o Brasil em obras que voltar ao passado do país que não tinha obras estruturantes, e tampouco perspectivas de melhorar.

Tranquiliza-me saber que o Brasil tem um sistema de saúde público, ainda que falho e com grandes limitações. Já usei hospitais públicos e, mesmo com todas as deficiências do atendimento, sai de lá curado e sem ter gasto um centavo. Centenas de milhares de brasileiros fazem a mesma coisa todos os anos. Cerca de 50 milhões de norte-americanos, habitantes da maior economia do planeta e que não têm plano de saúde, não podem fazer a mesma coisa, pois lá não há saúde pública. Obama, a muito custo, está encontrando uma solução para essa vergonha. Gostaria, é óbvio, que o SUS fosse igual ao sistema de saúde pública da França ou de Cuba. Porém, sinto muito orgulho do Mais Médicos, um programa que vem levando atendimento básico à saúde a milhões de brasileiros que vivem em regiões pobres e muito isoladas. Sinto alívio em saber que, na hora da dor e da doença, agora eles vão ter a quem recorrer. Sinto orgulho, mas muito orgulho mesmo, desses médicos que colocam a solidariedade acima da mercantilização da medicina.

Estou também muito orgulhoso de programas como o Prouni, o Reuni, o Fies, o Enem e os das cotas, que estão abrindo as portas das universidades para os mais pobres, os afrodescendentes e os egressos da escola pública.

Tenho uma sobrinha extremamente talentosa que mora no EUA e que conseguiu a façanha de ser aceita, com facilidade, nas três melhores universidades daquele país. Mas ela vai ter de estudar numa universidade de segunda linha, pois a família, muito afetada pela recessão, não tem condição de pagar os custos escorchantes de uma universidade de ponta. Acho isso uma vergonha.

Não quero isso para o meu país. Alfabetizei-me e fiz minha graduação e meu mestrado em instituições públicas brasileiras. Quero que todos os brasileiros possam ter as oportunidades que eu tive. Por isso, aplaudo a duplicação das vagas nas universidades federais, a triplicação do número de institutos e escolas técnicas, o Pronatec, o maior programa de ensino profissionalizante do país, o programa de creches e pré-escolas e o Ciência Sem Fronteiras. Gostaria, é claro, que a nossa educação pública já fosse igual à da Finlândia, mas reconheço que esses programas estão, aos poucos, construindo um sistema de educação universal e de qualidade.

Tenho imenso orgulho da Petrobras, a maior e mais bem-sucedida empresa brasileira, que agora é vergonhosamente atacada por motivos eleitoreiros e pelos interesses daqueles que querem botar a mão no pré-sal. Nos últimos 10 anos, a Petrobras, que fora muito fragilizada e ameaçada de privatização, se fortaleceu bastante, passando de um valor de cerca de R$ 30 bilhões para R$ 184 bilhões. Não bastasse, descobriu o pré-sal, nosso passaporte para o futuro.

Isso seria motivo de orgulho para qualquer empresa e para qualquer país. Orgulha ainda mais, porém, o fato de que agora, ao contrário do que acontecia no passado, a Petrobras dinamiza a indústria naval e toda a cadeia de petróleo, demandando bens e serviços no Brasil e gerando emprego e renda aqui; não em Cingapura. Vergonha era a Petrobrax. Pasadena pode ter sido um erro de cálculo, mas a Petrobrax era um crime premeditado.

Vejo, com satisfação, que hoje a Polícia Federal, o Ministério Público, a CGU e outros órgãos de controle estão bastante fortalecidos e atuam com muita desenvoltura contra a corrupção e outros desmandos administrativos. Sei que hoje posso, com base na Lei da Transparência, demandar qualquer informação a todo órgão público. Isso me faz sentir mais cidadão. Estamos já muito longe da vergonha dos tempos do "engavetador-geral". Um tempo constrangedor e opaco em que se engavetavam milhares processos e não se investigava nada de significativo.

Também já se foram os idos vergonhosos em que tínhamos que mendigar dinheiro ao FMI, o qual nos impunha um receituário indigesto que aumentava o desemprego e diminuía salários. Hoje, somos credores do FMI e um país muito respeitado e cortejado em nível mundial. E nenhum representante nosso se submete mais à humilhação de ficar tirando sapatos em aeroportos. Sinto orgulho desse país mais forte e soberano.

Um país que, mesmo em meio à pior recessão mundial desde 1929, consegue alcançar as suas menores taxas de desemprego, aumentar o salário mínimo em 72% e prosseguir firme na redução de suas desigualdades e na eliminação da pobreza extrema.

Sinto alegria com esse Brasil que não mais sacrifica seus trabalhadores para combater as crises econômicas.

Acho que não dá para deixar de se orgulhar desse novo país mais justo igualitário e forte que está surgindo. Não é ainda o país dos meus sonhos, nem o país dos sonhos de ninguém. Mas já é um país que já nos permite sonhar com dias bem melhores para todos os brasileiros. Um país que está no rumo correto do desenvolvimento com distribuição de renda e eliminação da pobreza. Um país que não quer mais a volta dos pesadelos do passado.

Esse novo país mal começou. Sei bem que ainda há muito porque se indignar no Brasil.

E é bom manter essa chama da indignação acessa. Foi ela que nos trouxe até aqui e é ela que nos vai levar a tempos bem melhores. Enquanto houver um só brasileiro injustiçado e tolhido em seus direitos, todos temos de nos indignar.

Mas sentir vergonha do próprio país, nunca. Isso é coisa de gente sem-vergonha.

(*) Marcelo Zero é formado em Ciências Sociais pela UnB