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Por Altamiro Borges
O ex-presidente
Lula parece que resolveu comprar uma briga frontal contra os monopólios
midiáticos, que contaminam a sociedade com as suas manipulações diárias. Em
discurso proferido nesta terça-feira (13), na abertura do 2º Congresso da
Associação dos Diários do Interior do Brasil, em Brasília, ele apontou o enorme
distanciamento entre a cobertura da chamada “grande imprensa” e a realidade do
país. De maneira enfática, ele defendeu a urgência da regulação democrática da
mídia e da descentralização da publicidade governamental. Reproduzo abaixo a
íntegra do pronunciamento, muito didático nas críticas à visão distorcida da
mídia monopolizada:
*****
É sempre um prazer dialogar com os
jornalistas e empresários da imprensa regional brasileira. Por isso agradeço o
convite da Associação dos Diários do Interior do Brasil para participar desse
Congresso.
Vocês acompanharam as transformações que ocorreram no Brasil
nesses 11 anos e que beneficiaram o conjunto do país, não apenas os
privilegiados de sempre ou as grandes capitais.
Sabem exatamente como
essa mudança chegou às cidades médias e aos mais distantes municípios.
O
Brasil antigo, até 2002, era um país governado para apenas um terço dos
brasileiros, que viviam principalmente nas capitais. A grande maioria da
população estava condenada a ficar com as migalhas; excluída do processo
econômico e dos serviços públicos, sofrendo com o desemprego, a pobreza e a
fome.
Os que governavam antes de nós diziam que era preciso esperar o
país crescer, para só depois distribuir a riqueza. Mas nem o país crescia o
necessário nem se distribuía a riqueza.
Nós invertemos essa lógica
perversa, adotando um modelo de desenvolvimento com inclusão social. Criamos o
Fome Zero e o Bolsa Família, que hoje é um exemplo de combate à pobreza em muito
países.
Adotamos uma política de valorização permanente do salário e de
expansão do crédito, que despertaram a força do mercado interno, e ao mesmo
tempo garantimos a estabilidade, controlando a inflação e reduzindo a dívida
pública.
O resultado vocês conhecem: 36 milhões de pessoas saíram da
extrema pobreza, 42 milhões alcançaram a classe média e mais de 20 milhões de
empregos foram criados.
O Brasil não é mais um país acanhado e
vulnerável. Não é mais o país que seguia como um cordeirinho a política externa
ditada de fora. Não é só o país do futebol e do carnaval, embora tenhamos
orgulho da alegria e do talento do nosso povo.
O Brasil tornou-se um
competidor global – e isso incomoda muita gente, contraria interesses
poderosos.
A imprensa cumpre o importante papel de traduzir essa nova
realidade para a população. E isso não se faz sem uma imprensa regional
fortalecida, voltada para aquela grande parcela do país que não aparece nas
redes de TV.
Todo governo democrático tem a obrigação de prestar
contas de seus atos à sociedade. E tem obrigação de divulgar os serviços
públicos à disposição da população.
A publicidade oficial é o instrumento
dessa divulgação, que se faz em parceria com os veículos de imprensa – desde a
maior rede nacional até os jornais do interior profundo do país.
Uma das
mudanças mais importantes que fizemos nestes 11 anos foi democratizar o critério
de programação da publicidade oficial.
Quero recordar que esta medida
encontrou muito mais resistências do que poderíamos imaginar, embora ela tenha
sido muito importante para aumentar a eficiência da comunicação de
governo.
Essa medida foi também uma questão de justiça, para reconhecer a
importância do interior no desenvolvimento do Brasil.
Quando o
companheiro Luiz Gushiken, que era o ministro da Secom em meu primeiro mandato,
começou a democratizar a publicidade oficial, muita gente foi contra.
As
agências de publicidade, os programadores de mídia e os representantes dos
grandes veículos achavam que era uma mudança desnecessária.
Reclamaram
quando o Luiz Dulci incluiu a imprensa regional na programação de publicidade do
governo federal.
E reclamaram ainda mais quando o Franklin Martins
aprofundou a política de democratização da publicidade, abrangendo as empresas
estatais.
Diziam que para falar com o Brasil bastava anunciar nos jornais
de circulação nacional e nas redes de rádio e TV.
Hoje é fácil ver como
estavam errados, pois a imprensa regional está cada vez mais forte. São 380
diários que circulam 4 milhões de exemplares por dia, de acordo com os dados da
ADI-Brasil.
Isso ocorre porque temos políticas que levam progresso e
inclusão social ao interior do país.
De cada 3 empregos criados no ano
passado, 2 se encontram em cidades do interior e apenas 1 nas regiões
metropolitanas.
Nunca antes o governo federal investiu tanto no
desenvolvimento regional, para combater desequilíbrios injustos e
injustificáveis.
Nunca antes a relação entre o governo federal, os
Estados e as prefeituras foi tão republicana quanto nestes 11 anos.
E são
jornais do interior – e não os veículos nacionais – que traduzem essa
realidade.
Quando chegamos ao governo, a publicidade oficial era
veiculada em anunciava em 249 rádios e jornais. Em 2009, o governo federal já
estava anunciando em 4.692 rádios e jornais de todo o país.
Meus amigos,
minhas amigas
Pediram-me para contar aqui uma experiência com a imprensa
regional no período em que fui presidente da República. Vou contar o que aprendi
comparando a cobertura da imprensa regional com a que fazem os grandes
jornais.
Quando o Luz Pra Todos chega numa localidade rural ou numa
periferia pobre, está melhorando a vida daquelas pessoas e gerando empregos.
Isso é uma notícia importante para os jornais da região.
Os grandes
jornais nunca deram valor ao Luz Pra Todos, mas quando o programa superou todas
as expectativas e alcançou 15 milhões de brasileiros, um desse jornais deu na
primeira página: “1 milhão de brasileiros ainda vivem sem luz”. Está publicado,
não é invenção.
Onde é que estava esse grande jornal quando 16 milhões de
brasileiros não tinham luz?
Quando chega o momento de plantar a próxima
safra, são os jornais regionais que informam sobre as datas, os prazos, os juros
e as condições de financiamento nas agências bancárias locais.
Mas na
hora de informar à sociedade que em 11 anos o crédito agrícola passou de R$ 30
bilhões para R$ 157 bilhões, o que a gente lê num grande jornal é que a inflação
pode aumentar porque o governo está expandindo o crédito.
Quando uma
agência bancária da sua cidade recebe uma linha do BNDES pra financiar a compra
de tratores e veículos pelo Mais Alimentos, vocês sabem que isso aumenta a
produtividade e aquece o comércio local. É uma boa notícia.
Mas quando o
programa bate o recorde de 60 mil tratores e 50 mil veículos financiados, a
notícia em alguns jornais é que o governo “está pressionando a dívida interna
bruta”.
Quando nasce um novo bairro na cidade, construído pelo Minha Casa
Minha Vida, essa é uma notícia local muito importante.
Mas um programa
que contratou 3 milhões de unidades, e já entregou mais da metade, só aparece na
TV e nos grandes jornais se eles encontram uma casa com goteira ou um caso
qualquer de desvio.
Quando o governo federal inaugura um hospital
regional, isso é manchete nos jornais de todas as cidades daquela região. O
mesmo acontece quando chega o SAMU ou um posto do Brasil Sorridente.
Mas
lendo os grandes jornais é difícil ficar sabendo das quase 300 UPAs, 3 mil
ambulâncias do SAMU e mais de mil consultórios odontológicos que foram abertos
por todo o país nestes 11 anos.
A maior cobertura de políticas públicas
que os grandes jornais fizeram, nesse período, foi para apoiar o fim da CPMF,
que tirou R$ 50 bilhões anuais do orçamento da Saúde.
Quando sua cidade
recebe profissionais do Mais Médicos, vocês sabem o que isso representa para os
que estavam desatendidos. Vão entrevistar os médicos, apresentá-los à
população.
Mas quando 15 mil profissionais vão atender 50 milhões de
pessoas no interior do país, a imprensa nacional só fala daquela senhora que
abandonou o programa por razões políticas, ou daquele médico que foi falsamente
acusado de errar numa receita.
Quando um novo campus universitário é
aberto numa cidade, os jornais da região dão matérias sobre os novos cursos, as
vagas abertas, debatem o currículo, acompanham o vestibular.
Lendo os
grandes jornais é difícil ficar sabendo que nestes 11 anos foram criadas18 novas
universidades e abertos 146 novos campi pelo interior do país.
É nos
jornais do interior que se percebe a mudança na vida de milhões de jovens,
porque eles não precisam mais sair de casa, deixar para trás a família e os
valores, para cursar a universidade.
O número de universitários no Brasil
dobrou para 7 milhões, graças ao Prouni, ao Reuni e ao FIES. Os grandes jornais
não costumam falar disso, mas são capazes de fazer um escândalo quando uma prova
do ENEM é roubada de dentro da gráfica – que por sinal era de um dos maiores
jornais do país.
Quando uma escola técnica é aberta numa cidade do
interior, essa é uma notícia muito importante para os jovens e para os seus
pais, e vai sair com destaque em todos os jornais da região.
Quando eu
informo que nesses 11 anos já abrimos 365 escolas técnicas, duas vezes e meia o
que foi feito em século neste país, os grandes jornais dizem apenas que o Lula
“exaltou o governo do PT e voltou a atacar a oposição”.
Quando chega na
sua cidade um ônibus, um barco ou um lote de bicicletas para transportar os
estudantes da zona rural, essa é uma boa notícia.
O programa Caminho da
Escola já entregou 17 mil ônibus, 200 mil bicicletas e 700 embarcações, para
transportar 2 milhões de alunos em todo o país. Mas só aparece na TV se faltar
combustível ou se o motorista do ônibus não tiver habilitação.
Eu
costumo dizer que os grandes jornais me tratam muito bem. Mas eu gostaria mesmo
é que mostrassem as mudanças que ocorrem todos os dias em todos os cantos do
Brasil.
Meus amigos, minhas amigas,
Quanto mais distante
estiver da realidade, mais vai errar um veículo de comunicação. Basta ver o que
anda publicando sobre o Brasil a imprensa econômica e financeira do Reino
Unido.
O país deles tem uma dívida de mais de 90% do PIB, com índice
recorde de desemprego, mas eles escrevem que o Brasil, com uma dívida líquida de
33%, é uma economia frágil.
Não conheço economia frágil com reservas de
US$ 377 bilhões, inflação controlada, investimento crescente e vivendo no pleno
emprego.
Escrevem que os investidores não confiam no Brasil, mas omitem
que somos um dos cinco maiores destinos globais de investimento externo direto,
à frente de qualquer país europeu.
Dizem que perdemos o rumo e devemos
seguir o exemplo de países obedientes à cartilha deles. Mas esquecem que desde
2008, enquanto o mundo destruiu 62 milhões de postos de trabalho, o Brasil criou
mais de 10 milhões de novos empregos.
O que eu lamento é que alguns
jornalistas brasileiros fiquem repetindo notícias erradas que vêm de fora, como
bonecos de ventríloquo. Isso é ruim para a imprensa, porque o público sabe
distinguir o que é realidade do que não é.
Alguns jornalistas dos
grandes veículos passaram o ano de 2013 dizendo que a inflação ia estourar, mas
ela caiu. Passaram o ano dizendo que a inadimplência ia explodir, mas ela também
caiu.
Diziam que o desemprego ia crescer, e nós terminamos o ano com a
menor taxa da história. Chegaram a dizer que o Brasil entraria em recessão, mas
a economia cresceu 2,3%, numa conjuntura internacional muito difícil.
Eu
gostaria que esses jornalistas viajassem pelo interior do país, conhecessem
melhor a nossa realidade, estudassem um pouco mais de economia, antes de repetir
previsões pessimistas que não se confirmam.
E vou continuar defendendo a
liberdade de imprensa e o direito de opinião, porque sei que, mesmo quando erra,
a imprensa livre é protagonista essencial de uma sociedade
democrática.
Meus amigos, minhas amigas,
A democracia é o
único sistema que permite transformar um país para melhor. E ela não existe sem
que as pessoas participem diretamente da vida política. Por isso digo sempre aos
jovens: se querem mudar a política, façam política. E façam de um jeito melhor,
diferente. Negar a política é o caminho mais curto para abolir a
democracia.
Aprimorar a democracia significa também garantir ao
cidadão o direito à informação correta e ao conhecimento da diversidade de
ideias, numa sociedade plural. Esse tema passa pela construção do marco
regulatório da comunicação eletrônica, conforme previsto na Constituição de
1988.
O Código Brasileiro de Telecomunicações é de 1962, quando no
país inteiro havia apenas 2 milhões de aparelhos de TV. Como diz o Franklin
Martins, havia mais televizinhos do que televisores.
É de um tempo em que não
havia rádio FM, não havia computadores, não havia internet. De um tempo em que
era preciso marcar hora para fazer interurbano.
No Brasil de hoje é
preciso garantir a complementariedade de emissoras privadas, públicas e
estatais. Promover a competição e evitar a contaminação do espectro por
interesses políticos. Estimular a produção independente e respeitar a
diversidade regional do país.
Uma regulação democrática vai
incentivar os meios de comunicação de caráter comunitário e social, fortalecer a
imprensa regional, ampliar o acesso à internet de banda larga. Por isso foi tão
importante aprovar o Marco Civil da Internet.
Este é o desafio que se
apresenta aos meios de comunicação, seus dirigentes e seus profissionais, nesse
novo Brasil: o desafio de ser relevante num país com uma população cada vez mais
educada, com um nível de renda que favorece a independência de opinião e com
acesso cada vez mais amplo a outras fontes de informação.
Quero
cumprimentar a ADI-Brasil, mais uma vez, pela realização desse Congresso, e dar
os parabéns aos seus associados, que levam notícias para a população do interior
desse imenso país.
Muito obrigado.
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